Matéria do caderno Mercado, da Folha de S.Paulo
por Débora Mismetti - editora-assistente de Saúde
Bactérias e fungos podem pegar carona, junto com as compras do mês, nas sacolas retornáveis usadas para transportar as compras de supermercado.
Um teste encomendado pela Folha ao laboratório de análises biológicas SFDK, em São Paulo, obteve a contagem de micro-organismos e, entre eles, bolores, coliformes e salmonela, em cem sacolas de consumidores de São Paulo. Eles foram contatados pelo Datafolha, que pediu a cada um a sacola mais usada para transportar as compras.
Segundo Mario Killner, especialista em análises microbiológicas e responsável técnico pelo laboratório, todas as sacolas, que chegaram ao laboratório lacradas em embalagens plásticas, foram abertas e manuseadas em câmaras de fluxo laminar, sistema de controle de ar que evita a entrada de contaminantes externos.
Uma gaze embebida em um líquido especial foi passada na superfície interna de cada uma, para que os micro-organismos presentes fossem capturados para a análise.
Amostras do material retirado das ecobags foram transferidas para meios de cultura. Os micróbios formaram colônias, que foram contadas para determinar a concentração em cada sacola.
O processo revelou que a maioria delas (88 das 100) tinha micro-organismos capazes de formar colônias e algumas tinham grande concentração deles. Em quatro delas, a metade da superfície interna analisada tinha mais de 1 milhão de micróbios.
Killner diz que esses números elevados são sinal de que as ecobags podem conter bactérias que causam doenças. A contagem de coliformes totais, achados em sete das sacolas, também as causam.
A salmonela, tipo de bactéria que pode causar gastroenterite, no entanto, não foi achada em nenhuma delas.
Bolores foram detectados em 59 das 100 sacolas, a maioria em baixas concentrações em relação à superfície. "O mofo em geral não causa doenças, mas reduz a durabilidade dos alimentos."
Killner afirma que os consumidores terão de se acostumar a higienizar as ecobags com frequência. "Talvez pudesse ter havido uma campanha para esclarecer os consumidores sobre isso antes da adoção das ecobags."
Marcelo Litvoc, infectologista do Hospital das Clínicas, concorda que é necessário lavar as sacolas, mas diz que a presença das bactérias não resulta em risco imediato de doenças.
"Todos os nossos objetos pessoais têm bactérias. O carro tem; nossas mãos, também. A gente não precisa viver numa bolha. O mais importante é a higiene na hora de manipular os alimentos."
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